Como um homem chega ao poder e provoca a morte de milhões de inocentes na Alemanha de maioria cristã na II Guerra ?
Segundo a Enciclopédia do Holocausto, a maioria dos líderes cristãos na Alemanha apoiou a ascensão do nazismo em 1933. Ao não denunciar publicamente a perseguição contra os judeus, especialmente nos primeiros anos do regime nazista, a Enciclopédia do Holocausto aponta os líderes cristão da época, em sua grande maioria como cumplíces do regime, assim como o foram outros líderes e profissionais alemães.
2/9/20255 min read


A ascensão de Hitler ao poder e o inferno de mortes que se seguiu durante a Segunda Guerra Mundial, em uma nação dita cristã, é uma história que assusta qualquer um de tão cruel e absurda que foi. É como se a fé que deveria ser luz, guia, tivesse sido distorcida até o ponto de não perceber a figura maligna do líder e a tragédia em curso que culminou num dos maiores genocídios da história. O poder de um homem, corrompido pela ideologia e pela manipulação, foi o bastante para transformar de certa forma um povo inteiro em cúmplice de uma monstruosidade. E a pior parte? Uma parte significativa da Igreja, que deveria ser o bastião da resistência ao mal, ficou calada, deixando-se levar pelo medo ou pela conveniência.
Antes de chegar ao poder, Hitler não se cansava de falar em "destino divino" para a Alemanha. Falava como se fosse um escolhido, um enviado de Deus, pronto pra “salvar” o país. Pouco antes de sua ascensão ao poder Hitler discursou perante uma multidão em Muniqueː
"Meus sentimentos, como Cristão, mostram-me meu Deus e Salvador como um lutador. […] Quão formidável foi sua luta contra o veneno judaicoǃ […] Como Cristão, […] eu tenho o dever de ser um guerreiro pela verdade e pela justiça." (Baynes, Norman H., ed. (1969). The Speeches of Adolf Hitler: April 1922-August 1939. New York: Howard Fertig)
E o povo, em grande parte, comprava isso. O antissemitismo dele não era só ideologia, mas uma "missão divina" que ele tentava vender como uma verdade religiosa.
Segundo a Enciclopédia do Holocausto, a maioria dos líderes cristãos na Alemanha apoiou a ascensão do nazismo em 1933. Ao não denunciar publicamente a perseguição contra os judeus, especialmente nos primeiros anos do regime nazista, a Enciclopédia do Holocausto aponta os líderes cristão da época, em sua grande maioria como cumplíces do regime, assim como o foram outros líderes e profissionais alemães. (https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/the-role-of-clergy-and-church-leaders)
Aquelas vozes que deveriam ser um grito de alerta contra a barbárie se calaram, ou pior, muitos se uniram ao regime por medo, conformismo, ou até por conveniência. Isso é algo triste e motivo de pedidos de desculpas por várias instituições religiosas em nossos dias. É um lembrete amargo de como a fé, por melhor que seja vista, pode ser manipulada e usada para justificar os maiores horrores quando as pessoas perdem o foco na moral verdadeira, no amor ao próximo e se deixam conduzir por enganadores que usam de certa forma a fé do povo para chegar ao poder.
No livro "A Cruz de Hitler: Como a Cruz de Cristo foi Usada Para Promover a Ideologia Nazista" O teólogo Erwin Lutzer formado no Winnipeg Bible Institute em 1962 como Bacharel em Educação Bíblica, tendo servido como pastor sênior da Edgewater Baptist Church, em Chicago, de 1971 a 1977, mestre em teologia pelo Dallas Theological Seminary em 1967, questiona como a igreja na Alemanha veio a tolerar a hedionda agenda de Hitler que contradiz descaradamente não apenas o ensinamento da Bíblia, mas também a lei natural. Compartilhando os sentimentos com as massas alemãs da necessidade de sobrevivência e da necessidade de ver a glória da Alemanha restaurada, a igreja perdeu sua capacidade de desafiar o casamento do nacionalismo e cristianismo. Quando a agenda nefasta de Hitler se tornou conhecida, a igreja ignorou os avisos de figuras como Dietrich Bonhoeffer e Martin Niemöller, e manteve o pensamento positivo de que a diplomacia se sairia melhor do que o posicionamento crítico efetivo e duro.
Claramente, percebemos que no mundo nazista não caberia o cristianismo, mas somente uma adaptação dele. Hitler seria o novo Cristo, o salvador da Alemanha.
O que fica claro olhando pra tudo isso, é que a ascensão de Hitler e o Holocausto não foram apenas uma falha política ou social. Foi uma falha moral e religiosa gigantesca. Uma distorção tão grande dos ensinamentos de Cristo que, ao invés de seguir o caminho da paz e do amor, a ideologia da época se alimentou de ódio, de violência e exclusão. A moral cristã foi virada do avesso e usada.
Conforme já dito, não podemos esquecer também do conformismo de muitos líderes cristãos que, ao se calarem, ajudaram o regime a tomar ainda mais força. O silêncio deles foi como um combustível que alimentou a máquina do mal. Se tivessem se levantado e se oposto ao que estava acontecendo, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Mas, em vez disso, os nazistas espalharam sua ideologia como uma praga que tomou conta do país.
Após a Primeira Guerra, a Alemanha estava quebrada, tanto economicamente quanto emocionalmente. O Tratado de Versalhes, que deixou o país humilhado, e a crise econômica abriram uma janela enorme para Hitler entrar e prometer o que ele chamou de "salvação". Ele usou o medo, a dor e o ressentimento da população pra criar uma narrativa de "renascimento", prometendo um "novo mundo" onde tudo seria mais forte, mais puro, mais organizado. E com isso, ele mexeu com o nacionalismo e com o preconceito das pessoas, manipulando os sentimentos de quem queria acreditar em um salvador. E, veja só, essa retórica ganhou apoio, até mesmo entre os cristãos, que deveriam ser os primeiros a perceber que algo estava errado.
A moral cristã, que deveria ser a base do amor e da compaixão, foi deixada de lado. Hitler usou o que já existia de antissemitismo em algumas vertentes do cristianismo e usou isso para incitar ódio, violência e morte. Ele manipulou um povo, fez com que se unissem contra um inimigo comum. E assim, a morte de milhões de judeus parecia justificada.
O fim da história? O Holocausto. Uma máquina de morte e destruição que engoliu milhões de vidas, e ainda hoje reverbera como um pesadelo histórico. O extremismo, a desumanização, o conformismo, tudo isso se uniu e resultou numa tragédia que, para muitos, parece impossível de compreender, mas que nos ensina a todo momento sobre os perigos da intolerância e da cegueira moral.
A Alemanha de Hitler não era apenas uma nação quebrada, ela era uma nação perdida, com muitos se deixando levar por uma ideologia que distorceu tudo o que o cristianismo genuíno pregava. Aqueles que se calaram, aqueles que se conformaram, aqueles que colaboraram – tais pessoas ajudaram a criar um dos maiores horrores da história. E a lição que fica é clara: quando a religião é manipulada, quando o amor ao próximo é deixado de lado, quando as pessoas se omitem, o mal encontra espaço para crescer e se espalhar, com consequências que são inimagináveis.
Reflexão
Discussão sobre Cristianismo e política contemporânea.
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