Como a Igreja pode ajudar a reduzir ou minimizar o problema do aborto ?

A Igreja, com toda a sua força, tem um papel fundamental quando se trata da questão do aborto. Mas, não basta só gritar um “não” ao aborto e deixar por isso mesmo, não resolve o complexo problema envolvido no tema e as questões subjacentes de uma mulher abrindo mão da maternidade. Se colocar contra é um posicionamento que faz todo sentido para a Igreja, mas é preciso mais, é necessário fazer a diferença de verdade pensando em todas as fases da vida do ser indefeso e não só na defesa da fase inicial do nascimento.

ESPECIAL

WNSilva

2/7/20256 min read

A Igreja, com toda a sua força, tem um papel fundamental quando se trata da questão do aborto. Mas, não basta só gritar um “não” ao aborto e deixar por isso mesmo, não resolve o complexo problema envolvido no tema e as questões subjacentes de uma mulher abrindo mão da maternidade. Se colocar contra é um posicionamento que faz todo sentido para a Igreja, mas é preciso mais, é necessário fazer a diferença de verdade pensando em todas as fases da vida do ser indefeso e não só na defesa da fase inicial do nascimento.

Além disso, é primordial pensar na mãe que também é um personagem fundamental na decisão a ser tomada.

Os cristãos não podem focar apenas na vida do feto no seu momento inicial, precisam ser mão amiga, estendida, oferecendo ajuda real, prática e efetiva para as mulheres e suas famílias antes, durante e nas fases pós-nascimento. O desafio pós nascimento é grande para famílias pobres, desestruturadas e fragilizadas e no desespero acabam fazendo escolhas ruins que não fariam se tivessem garantido o amparo necessário. Não é só criticar e trabalhar para o nascimento, é agir com carinho e acolhimento nas fases anteriores e posteriores ao nascimento.

Mas como? Simples! Tem tanta coisa que pode ser feita. A Igreja poderia, por exemplo, reforçar o ensino do verdadeiro valor da vida e trabalhar como ponte, mostrando alternativas práticas e dando suporte quando essas mulheres se sentirem perdidas, fracas e sem saber por onde começar. As dúvidas entre as mulheres são muitas. Como é que elas vão se sustentar? Onde vão morar? Quem vai dar suporte para cuidar dos filhos, até emocionalmente? A criança que nasce desamparada cresce e muitas vezes mais a frente, sem orientação, alimentação, suporte adequado, se revoltará contra a sociedade encontrando ou gerando violência em seu caminho. A Igreja não pode apenas condenar. Tem que haver mais do que um sermão bonito. Tem que atuar como solução, sendo aquela mão que pega na sua e diz: “Ei, a gente vai caminhar junto.”

Precisamos reforçar que a mensagem de Jesus é completa tal qual o Mestre comunicou aos discípulos mandando resolverem a fome da multidão quando os mesmos queriam sair do problema despachando a multidão para irem em busca de comida.

E não podemos esquecer que não é só ser contra o aborto, mas ser a favor da vida em todas as suas fases. Não adianta só criticar quem escolhe não ter o filho e depois esquecer que essa mulher vai precisar de apoio relevante. E é exatamente aí que a Igreja deve reforçar a atuação: se defende a vida, tem que cuidar dela em todas as etapas. Não é só no nascimento que a coisa acontece. Quando a mulher sabe que ela tem com quem contar, ela pode até ver o aborto de outra maneira. Ela não vai sentir que está sozinha no mundo. E, com a força efetiva da Igreja, ela vai ter a certeza de que a vida tem caminhos viáveis, e que não está sozinha. É acolher de verdade.

Agora, vem o lado complicado: quando a Igreja se cala ou não age de maneira concreta, ou enxerga o problema de forma limitada, focando em demasia no início sem dar respostas adequadas sobre o que fazer no momento seguinte ao nascimento. Muito podem dizer: Como é que diz que defende a vida, mas não defende com a mesma ênfase e foco o encaminhamento e futuro dessas vidas no pós nascimento? Tem que oferecer um apoio mais explicito, estruturado e que realmente faça a diferença. O discurso contra pode sensibilizar, mas só sensibilizar não basta. Tem que agir com visão ampliada das várias facetas que envolvem o problema, tem que ser algo que saia do coração, que se traduza em ações e práticas de curto, médio e longo prazo que toquem de verdade a vida das pessoas, produzam transformação e assim reduzam tal prática que é ruim e arriscada para a mãe e confronta a defesa da vida plantada por Jesus.

E, reforçando, o problema não é só ficar brigando com os pró-aborto ou criando mais leis contra. Isso até funciona em parte, mas não resolve. Ainda que exista lei, é dito que parte dos abortos ocorrem também na ilegalidade, ou seja, a lei e a defesa da mesma por si só não resolvem o problema. O que vai mudar a vida de verdade é a visão ampliada do problema com a Igreja se lançando em algo prático, mais real e efetivo. Criar uma rede de apoio verdadeira, onde as mulheres, ao escolherem a vida, saibam que terão alguém para segurar sua mão durante o caminho todo. Se a Igreja der esse apoio – com adoção, com aconselhamento psicológico, com ajuda financeira e amparo espiritual– ela vai estar cumprindo o papel que Cristo nos deixou. Vai ser a luz, vai ser a salvação, mas com atitudes concretas.

E aí vem a grande pergunta: se a Igreja se envolvesse mais e de forma mais estruturada e prática, criando soluções para depois do nascimento, será que não conseguiríamos diminuir, de verdade e de forma significativa o número de abortos no país? Será que, se a Igreja fosse mais ativa nisso, as mulheres entenderiam a vida com seus filhos como uma opção possível, com um futuro melhor, com apoio e carinho? Enfim, não adianta só falarmos contra o aborto. É preciso agir de maneira efetiva, atuar de forma efetiva para transformar a vida dessas mulheres e de suas famílias. Reconhecer que a luta não é contra carne e sangue e nem se limita a amplos debates políticos ou ideológicos mas envolve questão espiritual também. Se a Igreja criar essa abrangente rede de apoio atuando nos aspectos emocional, financeiro e espiritual com um trabalho intenso e estruturado, muitas mulheres não verão o aborto como a única saída. E a sociedade vai, aos poucos, mudar a visão que tem sobre isso e sobre o posicionamento da Igreja.

Resumindo, ao olhar para a vida depois do nascimento, a Igreja vai além do discurso e de questões politizadas. O foco não pode se limitar aos embates com movimentos pró-aborto ou se perder em debates políticos, mas ser parte importante da solução real. Pode ser o braço que abraça, a voz que orienta, o coração que acolhe. Só assim, com atitudes reais e claras, vamos cumprir a missão de Cristo de ser luz no mundo, trazendo verdade e salvação, não só com palavras, mas com ações que realmente mudam vidas.

Se, no fim das contas, nós cristão focarmos com intensidade no cuidado das vidas que estão chegando ao mundo, e também na qualidade de vida dos que já nasceram e precisam de apoio para crescerem saudáveis emocionalmente, fisica e espiritualmente, teremos uma verdadeira e completa solução. Porque, no fim das contas, é o cuidado com a vida em todos os momentos e dimensões é que vai ajudar a diminuir o número de abortos e a violência numa nação. Assim, a vida será celebrada de forma ampliada, não só com ênfase no começo, mas em cada passo que aquele ser que veio ao mundo der.

Alguém pode dizer que tem igrejas cumprindo esse papel. É verdade e devemos reconhecer isso e parabenizar! O ponto é que tal papel pode ser ampliado, com líderes se juntando, discutindo e criando estratégias conjuntas que estruturem a visão completa do que pode ser feito na vida de cada mãe e ser não abortado e definindo de forma holística ações efetivas que possam minimizar tal problema.

Por fim fica a pergunta: Se o Amor pregado por Cristo e o Evangelho de Amor alcançarem cada vida de forma genuína, de forma a trazer paz e segurança, o número de abortos não cairá? Se aquela criança crescer sem estrutura e se enveredar mais a frente no caminho da violência, perdendo sua vida ou retirando a vida de outrem, espiritualmente falando, sabendo o destino eterno que sua vida terá, terá valido todo o esforço para a proteção ao seu nascimento? Por ações desestruturadas ou incompletas teremos condenado a mesma a perdição eterna quando não nascendo teria alcançado salvação? Qual a nossa responsabilidade nisso olhando numa dimensão maior que não apenas o início da vida?